Santo Antônio da Patrulha
nasceu de uma história de ocupações de terras e de
amor. Ocupação da Coroa Portuguesa que queria
consolidar a ampliação de seus domínios frente à
Espanha no século XVIII. Para Portugal, a conquista
do extremo sul, além Tordesilhas, de posse domínio
da Espanha, era fundamental. Em 1680, Portugal
"já encravara diante de Buenos Aires o seu
posto avançado, a Colônia de Sacramento, na entrada
do Rio da Prata", conta a historiadora Vera
Lúcia Maciel Barroso. A ordem da Coroa era descer,
se apossar das terras disponíveis.
TROPAS - Mas são os
tropeiros, levando o gado para o centro do país, que
alargaram o território. Pelos campos de Viamão,
eles adentram serra acima até alcançar a feira de
Sorocaba, em São Paulo. Por volta de 1734, a Corte
envia Cristóvão Pereira de Abreu e alguns
auxiliares para oficializar a "estrada do
sertão". A presença portuguesa foi assinalada
pelo registro da Guarda Velha, nas imediações de
Campestre, altura do Rio Rolante, afluente do Sinos.
Esse registro era uma espécie de pedágio para
cobrança dos "direitos" da Coroa. Nas
imediações do posto, povoadores vão se
arranchando, sesmarias são concedidas e posses
legitimadas. A primeira sesmaria doada pela Coroa
portuguesa no Rio Grande do Sul foi na outrora Santo
Antônio da Patrulha, na região onde hoje fica
Capão da Canoa.
PAIXÃO - Entre os que aqui
chegaram naquela época, estava o soldado pardo-forro
paulista Ignácio José de Mendonça. Foi por ele que
Margarida Exaltação da Cruz, mulata, filha de mãe
escrava e pai açoriano, grande proprietário de
terras da Lagoa dos Barros, apaixonou-se. Sesmeiro de
terras na região, Ignácio viveu um romance
folhetinesco e agitado para a época. O pai de
Margarida, Manuel de Barros Pereira, era radicalmente
contra a união. Por isso, os dois acabaram casando
sob a proteção do vigário de Viamão, numa
história que envolveu direito canônico e uma grande
paixão, apesar da diferença de idade: Ignácio
tinha 50 anos, Margarida apenas 15. É aí, diz a
história que, a pedido do bispo do Rio de Janeiro, o
casal mandou construir uma pequena capela em
homenagem ao santo de sua devoção: Santo Antônio.
A capelinha foi erguida bem no alto de suas terras,
local onde hoje está a pira da pátria, na Borges de
Medeiros; era uma terra anônima, sem denominação
própria. Fazia parte do chamado "Campos de
Tramandaí", das "Estâncias" e dos
extensos "Campos de Viamão". Com a
abertura da estrada dos tropeiros, que cortava o
município, surgiu o Registro - posto de pedágio
para cobrança de impostos das tropas que passavam
para São Paulo. Assim surgiram os nomes Guarda,
Registro da Serra, Guardas de Viamão, Patrulha,
Guarda Velha e, em 1760, Santo Antônio da Guarda
Velha de Viamão. Aos poucos o nome Guarda foi
substituído pelo sinônimo Patrulha.
PIONEIROS - Não demora, a
delimitação do território torna-se imperiosa para
controle e assistência religiosa do povoado que
começava a crescer. Em 1763, Santo Antônio da
Guarda Velha abrangia toda a região que ia de Torres
aos campos de Vacaria. Para cá chegam os primeiros
colonizadores. Com eles, a agricultura se expande e o
povoamento se condensa. Nesta vasta área, ganha
espaço a cultura da cana-de-açúcar. Vindos de
Portugal, os irmãos Antônio e Manuel Nunes Benfica
instalam os primeiros engenhos de cana do Rio Grande
do Sul. Pretos, pardos, forros, índios, brancos,
portugueses e açorianos se mesclam no trabalho da
terra. Os campos com o gado muar, a terra de muitos
canaviais, os engenhos fazendo garapa, os alambiques
produzindo aguardente e a agricultura de
subsistência iniciando sua escavada.
MUNICÍPIO - Ao nascer do
século XIX, conquista as Missões e consolidado o
domínio português no Rio Grande de São Pedro,
começa a divisão político-administrativa do
território em municípios. Santo Antônio é
escolhida para formar, com Porto Alegre, Rio Grande e
Rio Pardo, a primeira sede de vilas da Capitania,
através da Provisão Real de 7 de outubro de 1809.
Afinal, essas eram as maiores povoações do estado.
Com a primeira Câmara instalada em 3 de abril de
1811, cabe à Santo Antônio a área que abrange todo
o pé da serra, distritos serranos e litorâneos. Com
o crescimento desses povoados, os laços vão se
rompendo. Em 1857, Santo Antônio perde a faixa
litorânea que passa a sediar o município de
Conceição do Arroio, hoje Osório. Em 1876-88,
Santo Antônio vê-se reduzido a município de
encosta: de seus 34.134 Km2 iniciais,
restam, ao final do século, 1.833 Km2.
CIDADE - A partir de 1880,
chegam os primeiros imigrantes. Os poloneses na Baixa
Grande, os italianos no Fraga e os alemães no
Entrepelado e Rolante. Todos localizados em pequenas
propriedades. Ao iniciar o século XX, Santo Antônio
da Patrulha não ficou à margem da interiorização
das relações capitalistas, do aburguesamento da
sociedade gaúcha. É introduzida a cultura de arroz
em grandes propriedades do município, contracenando
com a criação do gado em expansão. Assim,
dispontam os setores industriais e de serviços de um
lado, começam a surgir fábricas de máquinas e
equipamentos agrícolas como indústria de ponta para
o latifúndio; do outro, a produção de canas e
derivados se projeta, impulsionando o comércio e
indústria de transformação voltada à pequena
propriedade. O comércio se diversifica, bancos são
instalados, sociedades firmadas.
CAMINHO - Aliado à isso, um
forte movimento de acesso ao litoral, que passava
todo por aqui antes da ampliação da BR-290
(Free-Way) nos anos 70. Santo Antônio tornou-se
parada obrigatória, onde os viajantes degustavam
cafés com sonhos e iguarias da terra, compravam
rapaduras e a famosa caninha dos alambiques. O
comércio de beira de estrada acabou desenvolvendo
uma nova cidade, a Cidade Baixa, ou bairro
Pitangueiras, em oposição à Cidade Alta - parte
antiga que ainda conserva muito do casario com ruas
estreitas e o belo visual que os antepassados
deixaram. É na Cidade Alta que fica a Fonte
Imperial, restaurada em 1847. Após a ampliação da
BR-290 que tirou da cidade a maior parte do tráfego
rodoviário, Santo Antônio cresceu com o
desenvolvimento industrial, sem menosprezar a
produção primária. É diante deste nova realidade
que caminha o futuro do município.